sábado, 9 de janeiro de 2010

ESTRELA NO MEU QUARTO


Sentado à janela.
Assim observo a noite escura,
e observo a esperança que se esconde
para lá do desejo de te ter, aqui a meu lado.


No céu, apenas uma estrela,
só, solitária, sozinha em tamanha imensidão…
Onde foram as outras luzes?
E onde estás, que não aqui a meu lado?


Fosse o mundo o diâmetro do meu quarto
e seria eu o mais feliz dos homens,
talvez o único, e serias tu, meu bem,
a razão do meu mundo, trancado a sete chaves.

INSPIRAÇÃO DO POETA


Ora fazes de mim um artista,
desenhador de pensamentos,
libertador de tormentos,
o canalizador de desabafos,
o electricista que ilumina corações,
o engenheiro das obras literárias.

Ora transformas-me em carrasco,
num perseguidor de desejos,
embriagado em desesperos,
sofredor constante noite adentro,
num infame contador de realidades,
em poeta, homem louco pela verdade.

ASSALTO

I
Ele disse:
“Era escura a noite.
E, de armas em punho,
sem faca nem foice,
à ausência de testemunho,
do bosque abalamos
e as senhoras assaltamos”.


Respondi:
A vida é feita de momentos.
Segundos lentamente contados,
em que o certo e o errado são tormentos
para quem ataca e também para os assaltados.
E, quando o tempo contra vós corre,
pelo canhão da arma, há uma lágrima que escorre.


II
Ele disse:
“Era fria a noite.
Sorrisos jubilados pela vitória
cantavam enaltecendo a sorte.
Repartiam o espólio cantando em glória,
mas dentro de mim corroía
a lágrima do sangue que no chão escorria”.


Respondi:
Jamais recompensa alguma
é justa, quando em causa uma vida,
assaltada, a outro mundo ruma
e a homicida alma, arrependida,
chora e já tarde se mentaliza
que, nas brincadeiras, a morte vitimiza.


III
Ele disse:
“Frios são os pensamentos
quando o erro se agarra às recordações,
flagelando persistentes bons sentimentos,
insistindo em trazer-me negras visões.
A tortura tornou-se companheira minha
nesta cela onde a culpa é minha vizinha”.